quarta-feira, 20 de março de 2013

PAVÃO SOBRE O TELHADO

PAISAGEM COM PAVÃO - E. B. Brito




















A gente cresce por fora,
Vivendo a vida recente.
Dentro, há muito mais d’outrora
Do que aqui se pressente.

A memória jorra agora
É irrupção no presente
E esparge coisas miúdas,
Antigas coisas e gentes
:
Ora é água de cacimba
salto solto em rio perene
e o baixio todo alagado.
Por vezes, estrada e sol
Léguas, pra ir no barreiro,
Pra dar de beber pro gado.

A memória traz visões,
nos sobressaltos da noite.
Cabriolas e pavões,
em cima de algum telhado,

A memória é dentro e fora
resíduo do impermanente
um imenso mundo que aflora
paisagem dentro da gente...


 
Fonte da img:
AbARCA

sábado, 16 de março de 2013

NADIR (zoom n'areia)


Conchinhas d'Areia
Emanuel B. Brito



e esse formigamento nos olhos
esses pequeníssimos e inumeráveis ciscos
e esses mil diminutos pontos graníticos,
e esse nadir: o avesso de milhares de miúdas estrelas,
ora esse quartzo que lateja,
ora esses prismas em mica,
e esses quase- animálculos, minúsculos
e esses esporos, áporos, inanimados,
e esses poros na pele de tudo
e essas miríades de formas no caminho
e esses fragmentos rútilos à magma
e essas retinas afadigadas
e essa sensação quase imperceptível
de rocha desagregada em sal, no solo,
nos solados ........................................



Fonte da imagem:


VIDA SECA

Ser tão triste
E. B. Brito



















 

Não há muito por dizer 
e as palavras que restaram estão gastas. 

Errar, légua após légua, 
assim por dentro, um ermo. 

Errar pelo deserto
à busca de mim mesmo. 

Toda essa luz na estrada e a boca seca.
Só me resta essa demasiada sede de viver.



Fonte da img.:
AbARCA